quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Introdução aos Estudos da Linguagem

ORLANDI, Eni P. LAGAZZI-RODRIGUES, Suzy (Org.) O texto nos estudos da linguagem: especificidades e limites. In: Introdução às ciências da linguagem: Discurso e Textualidade. São Paulo: Pontes, 2006. p.  33-75.
ECO, Umberto. O Leitor-Modelo. In Lector in Fabula: A cooperação interpretativa nos textos narrativos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2008. p. 35-49.

Breve Síntese das Obras

 “O texto nos Estudos da Linguagem: Especificidades e Limites” de Freda Indursky salienta as diferentes formas teóricas para compreensão de textos e também se propõe em acabar com o senso comum com relação ao conceito de texto colocando-o sob observação, fazendo assim uma reflexão sobre a categoria texto e não apenas texto empírico.
Já o texto de Umberto Eco, “O Leitor-Modelo”, afirma que todo texto precisa da participação de seu destinatário por dois motivos: para estar em constante atualização fazendo a correlação entre expressão e código e também por estar repleto de espaços em branco, não-ditos, que devem ser preenchidos.

Principais Teses Desenvolvidas nas Obras

O primeiro texto do estudado foi o de Freda Indursky, mostra em seu inicio a colocação do texto como uma categoria teórica e que dependendo da concepção teórica de compreensão textual há novas interpretações também para os textos; depois é feita uma “viagem” pelo tempo em busca de um possível momento em que a noção de “texto” começou a ser formulada, desde a antiguidade clássica até os últimos estudiosos do sistema lingüístico. No decorrer da leitura foram analisados quatro filtros teóricos diferentes, para compreensão de um determinado “texto”, são eles:

- Lingüística Textual; a principio estudava o texto como uma seqüência coerente de frases, o texto era apenas uma extensão de frases, depois de um tempo os estudos começaram a se ampliar e buscaram o entendimento do texto não apenas pelas frases, mas sim pelo texto descrito por ele mesmo. (o texto pelo texto). A nova etapa do desenvolvimento da lingüística textual foi a junção dos processamentos do texto. Ou seja: buscar fazer associações que viessem dar maior discernimento com relação ao processo de compreensão e significação textual. Este modo de examinar o texto permite concebê-lo como um todo, onde as partes do todo (frases coerentes e junção das frases)  se relacionam entre si, criando assim um tipo de linguagem transfrástica.

-Teoria da Enunciação; esse filtro mostra a equivalência entre o enunciado como um texto, e afasta-se da limitação teórica de tratar a linguagem como um sistema, fechado, que considera apenas as relações internas, pelo contrario, a teoria da enunciação passa a considerar alguns aspectos que não pertencem diretamente ao sistema de linguagem. Há essa relação com o locutor com sua posição situacional que avalia o tempo de sua enunciação e o espaço da enunciação (Aqui e Agora), dessa forma a teoria da enunciação permite ultrapassar limites internos em um texto.

-Teoria Semiótica; que vê a língua como um sistema de signos  e trabalha o texto como objeto na semiótica greimasiana (narrativa) e a analise do discurso de linha francesa (o texto em relação ao discurso). A semiótica não se limita em textos lingüísticos o que interessa examinar nessa teoria é o funcionamento textual de significação. A posição do sujeito na semiótica é de instancia virtual.
O próprio sujeito é o operador de suas informações de acordo com sua competência enciclopédica.

-Analise do Discurso; em que o  texto não esta enclausurado no sistema lingüístico, mas se relaciona com o contexto histórico. Portanto vai contra a teoria da semiótica, pois acredita que o conhecimento pode vim de fontes externas ao texto. Vincula-se língua e cultura, não separando assim o texto do contexto.

Após descrever quatro tipos de analises de compreensão de texto e leitura, a autora faz suas considerações finais dizendo que foi imparcial com relação a qual filtro teórico é melhor ou pior para se analisar um texto. A idéia principal é acabar com esse senso comum citado no começo do texto.

O segundo texto estudado “O Leitor-Modelo” do Umberto Eco, se limita em analisar apenas textos não-ditos, e também enfoca que qualquer tipo de texto necessita de participação do destinatário por dois motivos, são eles:

1º Motivo: Para que haja a constante atualização do processo de comunicação e atualização dos textos fazendo a conexão entre expressão e código.

2º Motivo: Por possuir espaços a serem preenchidos nesse universo de “não-dito”. Existe um motivo pelo qual o autor também deixou o espaço em branco para ser preenchido, são dois:
Pelo falo de que um texto é um “mecanismo preguiçoso”. Em segundo lugar dar a livre interpretação para cada leitor, “ Todo texto quer que alguém o ajude a funcionar”

Por todo texto demandar a participação de seu destinatário, quando o autor produz um texto, faz uma hipótese sobre como este será lido, que caminhos o leitor deve percorrer, faz uma previsão de como será esse leitor, denominado leitor-modelo. Ele deve se mover no nível da interpretação da mesma forma que o autor o fez no nível generativo, para tanto, estratégias são tomadas. Muitas vezes,pelo contrario, há erros de previsão, motivados por análises infundadas ou preconceitos culturais. Porem, Eco ressalta que não se trata de esperar que o leitor-modelo exista, mas trabalhar o texto de forma a construí-lo de forma que se chegue onde o autor queria.
É uma troca mutua.

Outra abordagem é de que os textos podem ser classificados em abertos ou fechados dependendo da forma como as estratégias foram trabalhadas. Os últimos cerceiam o leitor, dão pouco espaço a ele (restritos). Nos primeiros, mesmo que o Leitor-Modelo faça inúmeras interpretações possíveis, uma ecoa a outra, de modo que se reforcem mutuamente.

O Autor e o Leitor-Modelo, ambos são tipos de estratégia textual segundo Eco. Mas o autor-modelo dependendo de traços textuais, que põe em jogo o universo do que esta atrás do texto e é visto como hipótese interpretativa.


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